10 Ago, 2015

Sem comentários

Parece-me lembrar que aqui há tempos, MAS e AGIR andavam desavindos, culpando-se de tentativas de apropriação e controlo, enchendo as redes sociais de ameaças e ódios, e rebentando com um já nada falado "Juntos Podemos" pelo caminho. E hoje, juntam-se para irem a eleições (fazer o quê? eles lá saberão)

Dir-me-ão que em política o que é mentira hoje, é verdade amanhã. Mas, não era mesmo o sistema político que queriam mudar?

24 Maio, 2015

Ada Colau, a PAH e as eleições de hoje em Espanha

Hoje à noite falar-se-à talvez muito de Ada Colau e do movimento Barcelona en Comú. Dir-se-à que em Espanha, o bipartidarismo está a ser colocado em causa, falar-se-à nos movimentos indignados, e etc e tal. Comparar-se-à com a realidade portuguesa, sublinhando todas as diferenças e mais algumas. Talvez se fale da limitação do salário do presidente da Câmara que o Barcelona en Comú defende (2200 euros). Provavelmente não, nem disso nem do restante programa que o movimento defende para a cidade. E não se falará certamente da actividade anterior de Ada Colau Ballano, das lutas e da coragem que sempre teve, desobedecendo a leis injustas quanto isso foi necessário para defender as pessoas hipotecadas dos despejos bancários e restituir-lhes a dignidade de cidadãos. Neste video está um exemplo dessa luta e tenacidade: várias centenas de milhares de assinaturas foram entregues ao parlamento espanhol para que criasse uma nova lei que permitisse a entrega das casas das famílias endividadas aos bancos com cancelamento total da dívida. O promotor da iniciativa foi a Plataforma de Afectados por la Hipoteca (também conhecida como PAH) que Ada Colau ajudou a formar e actuou como porta-voz.

A posterior recusa do parlamento em obedecer à vontade popular, veio legitimar uma campanha de escrache junto às casas dos deputados que anularam a iniciativa legislativa. A campanha alongar-se-ia no tempo por mais de um ano e viria a gerar grande incómodo nas classes dirigentes, que chegaram a rotular as acções de terroristas apesar de elas contarem com uns impressionantes 78% de apoio popular. Durante todo este processo Ada Colau deu a cara e o corpo pelo movimento de afectados, tanto a nível institucional, como na rua, enfrentando a polícia durante despejos ou ocupando bancos para os forçar a negociar com as famílias afectadas pelos despejos. Vale a pena saber mais sobre a história, os métodos e o trabalho social da PAH. Assim, depois de anos de trabalho de base, vale a pena tentar ganhar Barcelona. Assim, será possível tentar efectivamente ganhar a cidade, ainda que Ada Colau não se canse de repetir que provavelmente voltará ao trabalho de base depois dos resultados de hoje. Afinal de contas, como sempre menciona, a vitória não é sua e há um projecto importante para continuar.

Nota: em Portugal depois de umas quantas tentativas frustradas relacionadas com Duarte Lima, os escraches foram utilizados com relativo sucesso mediático pelo movimento de Indignados do BES quando realizou uma manifestação junto à casa de Carlos Costa. Desconheço se a iniciativa estava ou não incluída numa estratégia de mais largo prazo mas a luta justa deste conjunto de pessoas é sem dúvida um contributo importante à discussão pública dos escândalos do mundo financeiro.

13 Maio, 2015

Ada em Barcelona

Vem esperança de Barcelona. O video reporta o discurso de Ada Colau no último fim de semana em Nou Barris. Barcelona en Comú é das primeiras candidaturas eleitorais que efectivamente respeito e me dá alguma esperança no futuro. Encabeçada por Ada Colau Ballano alguém com anos de experiência no trabalho de base social, na defesa obstinada das pessoas contra os abusos dos bancos, suportando acusações de terrorismo, respondendo com desobediência civil em torno de causas justas, colocando em cheque o sistema montado. Para acabar com a desordem e o ataque às nossas instituições e reforçar a cidadania no sul da Europa, Ada é sem dúvida parte da resposta. No seu discurso, Ada pergunta-se se será realmente mais útil candidatar-se e aturar hipócritas ou continuar o trabalho de rua. A resposta certa é a segunda, mas alegro-me que esteja disposta a encabeçar a primeira. Fala também da importância de Barcelona no movimento de mudança que se necessita em Espanha, Grécia e Portugal. As eleições de 25 de Maio não serão um fim, mas a continuação da mudança iniciada à anos pela PAH e o 15M. Porque existe muito activismo de qualidade por baixo, a continuidade está garantida. Seja qual for a forma.

20 Abr, 2015

Mariano Gago: no dia do adeus.

A propósito disto: http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2015-04-19-Comunidade-cientifica-portuguesa-vai-homenagear-amanha-Mariano-Gago

Num país de ladrões, haver alguém que tendo crédito europeu disponível, faz o acto simples de o aplicar em algo público, é merecedor de actos públicos de agradecimento.

Centenas de investigadores que não saíram à rua para protestar contra os cortes do governo na ciência, que nunca foram capazes de relacionar esses cortes com os cortes generalizados noutras profissões (e os lucros generalizados de outras), que não se juntaram nunca para exigir o fim da bolsas e da precariedade, que não fizeram uma greve, que ainda propagandeiam à exaustão a exacta necessidade de competitividade que é diariamente usada para os excluir e fazer emigrar, juntam-se para saudar determinada e unanimemente o seu defunto mais querido, aquele governante simpático e inteligente que em tempos de créditos gordos, ainda que colaborando com outros ladrões, pelo menos os alimentava.

Nota final: Depois do acto de agradecimento, sugiro uma análise objectiva aos méritos e deméritos da governação de Mariano Gago. Sendo certo que uma parte da análise deverá incidir sobre o seu enorme contributo à projecção e valorização da ciência em Portugal, valerá por certo também a pena questionar se a sua insistência na precariedade dos vínculos (que aparentava considerar um factor de estímulo), não terá sido na realidade um acto de gestão danosa do interesse público que leva actualmente à emigração daqueles que custaram milhões a formar (isto para já não falar nas reduções das taxas de natalidade, perda de capacidade de inovação no país, reforço da capacidade de inovação dos nossos mais directos competidores/financiadores externos, e n outros efeitos colaterais dessa emigração).

19 Abr, 2015

Rodrigo Rato preso: next um político nas suas imediações.

Espectacular vitória dos companheiros espanhóis. Sim é possível, juntos podemos.

Hoy en @15MpaRato celebramos la caída de Rodrigo Rato #LaciudadaniaLoHizo

Publicado por 15mparato ⋅ abril 16, 2015

A todo Rato le llega su 15M

1) – Sin la labor ciudadana, esto no se habría conseguido.

Rodrigo Rato, que hace tres años era intocable, es hoy investigado, su casa registrada y él detenido porque tiene “un perfil delictivo“. ¿Por qué hoy sí y hace tres años no? Porque la ciudadanía organizada en 15mpaRato ha investigado y lo ha demostrado, evidencia a evidencia, sacando a la luz las prueba de sus fraudes. Desde la salida a bolsa a Bankia a las Tarjetas Negras, sacadas a la a luz con los Correos de Blesa, siempre lo hemos conseguido organizándonos como ciudadanos.

2) – Rodrigo Rato está siendo utilizado como chivo expiatorio.

Que hayamos elegido a Rodrigo Rato, por ética y por estrategia, como primer objetivo no significa que vayamos a aceptar que sus cómplices que nos gobierna lo utilicen como chivo expiatorio. Si lo elegimos a él fue precisamente porque no hay nadie con poder en este país que no haya sido cómplice suyo. Acabar con Rato no es un asunto personal, solo un asunto de democracia. Si sus antiguos cómplices de PP, PSOE, CEOE, la cúpula de IUcm, los dirigentes de las dos grandes centrales sindicales… pretenden sacrificarlo para evitar que les salpique, nosostros no lo vamos a consentir: estamos aquí para decir una vez más que empezamos por Rato, sí, pero asegurando que con él caerían todos.

Iremos hasta el final.

Caerán todos.

3) Anunciamos desde ahora que, en breve, abriremos una nueva línea de acción en este sentido. Queremos además, invitar al Sr. Rato, ahora que los suyos le han abandonado, a contactar con nosotros para ayudarnos a acabar el trabajo que hemos empezado.

Si se rinde será mejor para todos.

20 Mar, 2015

Agir vs BE: Encontre as diferenças

O Agir, partido de esquerda em formação, convidou membros da IU, Podemos e Syriza (1 cada) para uma conferência international (21 e 22 Março) em Lisboa. (link)

O BE, um partido de esquerda já estabelecido, convidou membros do Podemos e Syriza (1 cada) para uma conferência international (21 e 22 Março) em Lisboa. (link)

Comentário: O governo convenceu os portugueses de que o país saiu da crise, o principal partido da oposição concorda, os comunistas seguem na sua tentando secar o que está à volta, e os restantes esgatanham-se pelas parcas migalhas eleitorais que lhes restam aparentando continuar a achar que vale a pena fazer trabalho de sensibilização, organização e mobilização de base porque a urgência da crise que enfrentamos não se compadece com as demoras envolvidas no planeamento estratégico e metodológico a médio-longo prazo. Partiremos um dia rumo a isso? Sim, claro. Mas com mais de 4 anos de atraso em relação a Espanha e em relação à Grécia (curiosamente as musas inspiradoras dos raciocínios eleitoralistas destes dias).

15 Mar, 2015

Iñigo vs. Marisa, Podemos vs. Bloco de Esquerda: Do populismo à depressão

Um amigo enviou-me um excerto de uma conferência decorrida há uns dias onde participaram Iñigo Errejón (Podemos) e Marisa Matias (Bloco de Esquerda), entre outras pessoas.

Vale a pena analisar e comparar os dois discursos.

O de Inigo (às 5h13min) essencialmente motivacional, reenquadrando o património histórico da esquerda no presente e futuro, com muitas promessas de reconquista colectiva e propostas essencialmente generalistas. Enquanto político, Iñigo acredita numa mudança e promete encabeça-la. Diz mesmo que já o está a fazer. Considera essa mudança fundamental para mudar tudo. Fala de unir dos de baixo contra os de cima, de unir a maioria contra a minoria que a desgoverna e limita. Fala da necessidade de participação cidadã e motiva à reconquista. Vê-se que Iñigo vive ummomento épico.

O discurso de Marisa Matias (às 6h05min) é essencialmente descritivo e de um contraste absoluto com o anterior. Revê os efeitos da austeridade, apresenta à audiência uma Europa dominada pela direita, que massacra os povos do sul com austeridade. Afirma o medo das ruas, da extrema direita e da própria sombra. E no final, refere por várias vezes a mudança incorporando-a no Syriza (Grécia), Podemos (Espanha) e Sinn Fein (Irlanda). Na lista, não refere Portugal. Gabo-lhe a honestidade intelectual mas não a tipologia do discurso. Sendo realista, é desencorajador e deprimente. Iñigo aplaude visivelmente desiludido à medida que as palavras se sucedem. Nem a “Grandola Vila Morena” final é entoada com um mínimo de convicção. Um momento menos feliz? sem dúvida.

Não morro de amores por discursos motivacionais, mesmo que me transmitam consideravel entusiasmo e goste de ver a esquerda ganhar e acreditar que pode vencer. O problema com este tipo de discursos é fazerem-me sempre sentir que estou a ser levado a comprar algo que propositadamente não me revelam o conteúdo. Não convivo bem com essa sensação, faz-me sempre lembrar a extrema-direita mesmo que repitam “democracia” e “cidadania” a cada passo. Há experiências em Espanha que partindo de um discurso forte, o pontuam com ideias políticas e activistas mais sólidas, dando mostras efectivas de abertura à cidadania e de capacidade de desobediência ao sistema. Essas parecem-me bem mais prometedoras que o Podemos (exemplo).

Mas que dizer do discurso de Marisa Matias, do seu derrotismo e da sua falta de crer e de emoção? Reconhecendo-lhe a honestidade intelectual e o realismo, não entendo a necessidade que sente necessidade de afirmar a derrota do seu partido (e de muitos da esquerda Europeia) a cada palavra, quase pedindo desculpa por existirem cheios de boas intenções mas não conseguirem chegar lá. Todos sabemos a culpa que a esquerda partidária portuguesa tem na incapacidade de dar a volta ao texto da austeridade. Mas felizmente, há muita gente em Portugal e em toda a Europa (e não só na Espanha, na Grécia e na Irlanda) a trabalhar com alegria para construir uma alternativa! Muita gente fora dos partidos. Marisa devia olhar para isso e tentar sorrir.

No final disto tudo, há que procurar extrair conclusões construtivas da comparação. Ocorre-me que teremos que caminhar um pouco mais para se encontrar o balanço certo entre os dois tipos de discursos. E quem sabe, talvez até venha a revelar-se bom Portugal partir atrasado e beneficiar da experiência prévia de Grécia e Espanha antes de construir a sua própria alternativa política. Que ninguém duvide que Podemos. Temos é de procurar e encontrar a fórmula. Ficando deprimidos e dependentes de partidos que gemem e suspiram antes de se afundarem é que não!

29 Jan, 2015

O que pode a esquerda portuguesa dizer para apoiar o Syriza (e não diz)

Por estes dias são múltiplas as declarações de partidos e comentadores politicos e económicos sobre a vitória do Syriza. Algumas delas, como as do BE, as do Livre ou as do PCP são declarações de apoio e têm ajudado a que o tema da renegociação/anulamento da dívida retome o debate público.

Tudo isto é muito certo. Mas é preciso algo mais do que meras palavras. Elenco de seguida três aspectos que considero fundamentais serem trazidos a este debate por parte de quem quer dar efectivo apoio ao Syriza e ao o povo grego:

1. Comecemos por exigir a suspensão da cobrança de dívida grega. Sim, é verdade! Tanto o estado português como vários (muitos?) privados nacionais (nomeadamente bancos) detêm actualmente dívida grega sobre a qual continuam a cobrar juros e prestações altíssimas. Quem apoia o Syriza e o povo grego deveria, no mínimo, exigir a suspensão imediata do recebimento destas quantias cuja necessidade de pagamento massacra diariamente o povo grego.

2. Passemos depois à Auditoria Cidadã à Dívida Pública. Sim, é possível realizá-la ainda que poucos falem nisso! Pessoas anónimas podem juntar-se e contactar os movimentos de auditoria nacionais (Iniciativa Auditoria Cidadã à Dívida Pública, Comité para a Anulação da Dívida Pública Portuguesa, Democracia e Dívida) e internacionais (Auditoria Cidadã à Dívida Grega, International Citizen Audit Network, Comité para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo) no sentido de ajudarem na identificação das partes da dívida grega que são ilegítimas, isto é, que dívidas foram contraídas pelos anteriores governos gregos sem terem em vista o benefício da população (exemplos: financiamentos para aquisição de material militar à Alemanha, financiamentos de recapitalização de empresas públicas posteriormente privatizadas, financiamentos envolvidos em actos de corrupção). Por serem ilegítimas, estas partes da dívida não devem ser pagas pela população grega.

3. E terminemos exigindo que os governos (desde logo o português) disponibilizem financiamento à Grécia, a juros baixos ( ou nulos!) e com condicionalidades simples associadas ao seu uso em prol da reorganização dos serviços públicos e/ou do auxílio directo à população. O governo actual, o tal liderado pelo Syriza e que muitos dizem hoje apoiar, agradecerá essa almofada financeira que lhe permitirá resistir às investidas dos credores (nomeadamente ao estrangulamento financeiro que se aproxima).

Enfim, tudo isto é simples (é, pelo menos, simples de trazer para debate público). Porque será que nenhum dos partidos da esquerda parlamentar nacional mediatiza estas exigências e acções de solidariedade?

21 Jan, 2015

Financiamentos duvidosos: desta feita à UGT

Já falei sobre isto aqui antes a propósito dos financiamentos do BES ao PCP, a outros partidos e ao presidente da república.

Total transparência nos financiamentos públicos e bancários de partidos políticos e parceiros sociais desde, pelo menos, inícios de 2011, faria maravilhas pela compreensão do que se passou em termos de (des)mobilização social neste país empobrecido pela Troika.

Hoje fizeram-me chegar mais uma notícia, desta feita de 2013 e sobre a UGT.
http://www.ionline.pt/artigos/dinheiro/estado-fiador-da-ugt-1996/pag/-1

18 Jan, 2015

Movimentos, partidos e as eleições que se avizinham

Estou às voltas a tentar dar uma volta positiva à pobreza que vejo em termos de movimentos sociais. Para clarificar o meu pensamento, o mais importante que me ocorre é que um movimento social deixa de o ser assim que começa a envolver-se na conquistar o poder. Por isso é tão importante não confundir movimento social com as infindáveis tricas partidárias que estão a ocorrer no Juntos Podemos. O Juntos Podemos nunca foi movimento social nenhum, nunca teve um objectivo de mobilização ou pressão social que se lhe conheça. É o resultado de uma decisão de intervenção política, por via sistémica, de algumas pessoas que estiveram ligadas a movimentos sociais (ou que andaram por aí a promover manifestações de protesto como se fossem movimentos sociais).

Os movimentos sociais de que falo (sensu 15M, mas já existiam muitos antes) continuam aí, pequenos, razoavelmente estruturados, fazendo campanhas contra o TTIP, pela democracia participativa ou directa, pelo direito à habitação, pela auditoria cidadã à dívida e não pagamento das dívidas ilegítimas, pela abstenção ou voto em branco consciente, contra o gás de xisto, pela transparência e contra a corrupção, contra a violência de género, contra o racismo, contra as alterações climáticas, pelo direito à adopção por casais homossexuais, testando novas formas de organização cooperativa, e abordando várias outras causas, visibilizando-as, ajudando-as a entrar no domínio público. É nestes movimentos (muitas vezes pequenos e ausentes dos orgãos de comunicação social mas que não raras vezes ressurgem em visibilidade) que reside a força da mudança e da sociedade. É aí que é efectuada a reflexão sobre os processos e as estratégias cidadãs. Aí sim, reside a critica cerrada ao sistema capitalista, ao estado na nossa democracia, à corrupção. Não é uma crítica directa, mas é uma crítica forte e cerrada.

Tudo o resto são fait-divers com que somos confrontados de tempos a tempos, por parte de elementos que pretendem usar a sua participação em movimentos sociais como instrumento político (mais frequentemente trampolim) para tentar, de uma forma ou de outra, influenciar directamente as eleições. Esses elementos prestam um péssimo serviço à movimentação da sociedade, seja quando alinham ou apoiam directamente forças partidárias já existentes reforçando as suas campanhas com o seu curriculo de intervenção social, seja quando formam novas correntes partidárias cuja espectativa de sucesso apela e assenta directamente na movimentação social pré-existente. Prestam também um mau serviço quando promovem manifestações de protesto sem autonomia política em relação à agenda das oposições. Por tudo isso devem-lhes ser pedidas responsabilidades. Os seus actos não são inócuos: eles dividem e desestruturam os movimentos sociais em que participavam, contribuindo para imobilizar a sociedade durante os períodos eleitorais, e aliviando a tão necessária pressão dos movimentos sociais sobre o poder político (todo ele, não é só do governo que se trata). Mas, talvez mais importante, será quem não concorda com estas atitudes, isolar e denunciar os seus comportamentos mas continuar a trabalhar e reflectir como antes, evitando o alastrar de danos.

O período eleitoral que se avizinha é muito mais do que uma oportunidade de mudar o governo. Ele é um momento chave para trazer às ruas e dar visibilidade ao trabalho que os movimentos sociais têm vindo a desenvolver. É um momento sensível da democracia amordaçada que vivemos, em que é possível fazer pressão, denunciar o sistema, e apelar a que a população exija efectiva mudança. É também um momento em que muitos militantes dos partidos estão envolvidos em campanhas eleitorais, deixando as reuniões de muitos movimentos mais abertas à participação e espontaneidade cidadã. Este momento eleitoral não é um fim, mas é uma oportunidade para trabalhar melhor e dar maior visibilidade ao trabalho que tem sido feito. É uma excelente altura para os movimentos sociais intervirem. E essa intervenção é muito mais importante e tem muito mais potencial de mudança do que a participação directa no jogo eleitoral viciado a que vamos assistir. Há que trabalhar para que assim seja, evitar perder tempo com o que não nos diz respeito e avançar. Vamos a isso!

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