Archive for Janeiro, 2014

30 Jan, 2014

divagação sobre as siglas e as vontades

Alguém perguntou simpaticamente:"importam-se que assine em nosso nome apesar de já não existirmos?"

É curioso mas esta simples pergunta levanta uma questão algo profunda, relacionada com a validade dos nomes e real significado do que eles representam…ou não representam…

Admitamos que não havia consenso e se forçava a assinatura. Faria diferença? se no final não existisse vontade por trás da assinatura, quão longe iria a vontade do proponente?

De forma inversa, suponha-se que havia consenso mas que este era meramente formal, a vulgar aquiescência desinteressada. Faria diferença? Imagino que o a acção ocorreria talvez, que o proponente poderia alegar que essa acção era representativa porque tinha havido uma decisão. Mas no final, quem e que vontades representaria ela mesmo?

Quanto a mim, mais do que nomes e representações o que busilis está realmente na força da vontade colectiva que está por trás das decisões. Exista ela em força e a tomada de decisão já está efectuada, cumprindo mera formalidade. De facto, parece-me que "haja vontade", e com ou sem decisão colectiva, tudo se realiza. É a vontade que frequentemente falta, não são as siglas ou os nomes ou as representações. Estas, mais não são que meras convenções humanas assentes num sistema de representação vagamente aceite mas que na realidade não tem mais força que a vontade que efectivamente lhe estiver por trás.

Reparo que o mesmo se aplica aos nomes próprios. Admitamos que alguém assina por mim. Que representa isso se a minha vontade não estiver por trás? Dirão alguns que poderá não representar nada mas é altamente provavel que me traga inconvenientes. É certo que sim, mas se eu afirmar que aquela assinatura não me representa, não deveria ser o esse bastante para respeitarem a minha vontade presente e desrespeitarem o simbolismo da assinatura?

Tal como as promessas, os nomes, assinaturas, siglas, valem apenas tanto quanto a vontade que lhes estiver por trás. E haverá sempre algo de errado numa sociedade onde o respeito pelas siglas e assinaturas é mais forte que o respeito pela vontade presente das pessoas que elas representam.

30 Jan, 2014

A correria II

A correria estimula hormonas que nos fazem sentir bem. Talvez por isso te ponham a correr?

30 Jan, 2014

A correria

Há momentos em que se vê mais longe do que a correria dos dias. E o que se vê não é decididamente normal.

É precisamente para evitar que faças isso que te põem a correr.

30 Jan, 2014

O suicídio

se alguém, para que fosse feito efectivo esforço, ameaçasse…

"se os despede eu mato-me e terá de viver com isso"

porque será que me parece que o poder instituido mais depressa botaria a polícia atrás dele no sentido de impedir que se matasse (o louco!) do que ponderaria emendar caminho?

É por isso que os suicidas não avisam.

Mas dá no mesmo. Nunca ponderam. Não enjaulam, mas concluem pela loucura, e nunca ponderam.

Não vale a pena. Nada vale a pena que não morder-lhes fundo até sangrar. Preso por preso, louco por louco, sempre lhes corre algum sangue para a calçada.

30 Jan, 2014

transparência

Há um motivo porque sempre se impede a transparência: para impedir os outros de lutar.

21 Jan, 2014

Sobre natas

Não gosto de natas, nunca gostei. E por isso estou solidário com elas – preocupa-me que sejam retiradas do menu – mas também estou profundamente irritado com elas, com muitos dos seus comentários, com uma parte substancial da forma como se batem, e com a forma como, por tanto tempo, sorriram e agradaram a quem as bajula, esquecendo-se por completo do resto bolo.

Não gosto de natas porque não gosto dos que se sentem "a nata" e muito menos daqueles que aspiram desesperadamente a serem chantilly, sem perceberem que "a nata" não é mais do que a gordura do leite. Também não gosto da atitude daqueles que passaram anos a dizer que eram "a nata", não gosto daqueles que ainda hoje se afirmam "a nata", e acho incrível como algumas pessoas afirmam que "ovos, farinha, manteiga e açucar há imensos mas natas há poucas e custam muito dinheiro e levam muito tempo a bater" e por isso "são mais importantes". Também não gosto daqueles que considerando-se "a nata" nunca na realidade perceberam que não iam longe sem "os ovos e o açucar (e a farinha e a manteiga!)", e que hoje protestam sem sequer repararem que já há muito tempo que "os ovos, o açucar, a farinha e a manteiga" foram sendo retirados, maltratados, espezinhados enquanto elas, "as natas", eram batidas "em chantilly". Nem daqueles que não percebem que o problema mais grave não é a quantidade de "nata", mas as opções culinárias dos pasteleiros…pasteleiros que, durante anos, se labuzaram e enalteceram mediaticamente a beleza das "natas" (e do "chantilly" delas extraído) com o intuito de desviar a atenção "do açucar, da farinha, dos ovos, da manteiga e das próprias natas" da receita em curso. E que por fim, depois de tanto terem comido, quando lhe faltou o dinheiro para investir em mais "natas" (ou terá sido apenas porque se enjoaram?), decidiram fazer o que já há muito "a manteiga, a farinha, os ovos e o açucar" tinha vindo a perceber: cortaram nas natas e mudaram para uma receita que lhes permitisse continuarem a alimentar-se seguindo os conselhos de pasteleiros gulosos seus amigos. Resultado: uma parte das natas foi batida aceleradamente, seleccionada arbitrariamente, e vendida para uso de cozinheiros em pastelarias de luxo. Outra parte, maior foi incluida em pasteis de nata e exportada em packs de 6 e ainda quentinha para pastelarias estrangeiras. E a grande maioria das natas azedarou e será em breve rotulada de imprópria para consumo, primeiro pelos pasteleiros, depois por novos critérios higiénicos estabelecidos pela ASAE, e finalmente pelo próprio chantilly de luxo e natas exportadas. Trágica história a desta receita.

Moral da história: Como sempre acontece nestas coisas da culinária, "as natas" não se conseguem fazer valer só por si, eternamente encavalitadas em cima "do açucar, dos ovos, da manteiga e da farinha". Muito menos conseguem valer-se por si menosprezando e diferenciando-se ostensivamente de quem as sustenta. Nata é nata, açucar é açucar, ovos são ovos, farinha é farinha, manteiga é manteiga. E tanto as natas como a manteiga vêm do leite. É importante, perceber bem isso. É importante entender bem isso. E perceber ainda, criticamente, que a posição das natas (e do chantilly) no alto do bolo serve para algo mais do que "para estar em cima e ser apreciado": é uma posição cuja altura depende de quem está em baixo; é uma posição que permite ver mais longe; é uma posição que permite perceber os movimentos do cozinheiro na cozinha e ler de soslaio livros com outras receitas, noutras linguas, que estão abertos em cima da mesa; e, por tudo isso, é uma posição que exige às "natas" grande responsabilidade e um contributo sério e solidário na colocação da sua beleza e sabor ao serviço de um ideal de pastelaria comum, ao lado de "açucar, manteiga, ovos e farinha", que ajude todos os ingredientes a salvarem-se do livre do arbitrio dos cozinheiros gulosos, fanáticos ou malucos.

21 Jan, 2014

Palavras sábias de um colador de cartazes às 5 e meia da manhã

Os cartazes ficam bem no site, juntos criam um histórico gráfico atractivo, dão certo calor à pagina e ainda são um gesto de reconhecimento para com os nossos compaheiros fazedores de cartazes. Ainda, quando chegar a altura, vamos colar alguns. Vivam os cartazes na rua! Vivam os murais, vivam as palavras. Toca acordar, mas eu vou arrochar!
cleardot.gif

16 Jan, 2014

frase

its not that I am difficult to fool, I am just difficult to bluntly exploit

13 Jan, 2014

Regras bancárias de novo relaxadas (Basel Committee for Banking Supervision)

São incriveis estes tipos. Mais liberalização ao nivel dos bancos. Neste grande circo que é a vida hoje, este tipo de medidas equivale a, e.g., num circo, deixar os leões à solta no meio das pessoas com o intuito de que possam sentir-se mais livres e crescer dando um contributo harmonioso à natureza. Alguém o faria? porque o fazemos?

Este parágrafo diz tudo

The announcement is the latest in a series of amendments to the aggressive new rules that regulators drew up in reaction to the 2008 financial crisis, in an effort to make the financial system safer. Much of that fine-tuning has had the effect of softening the impact of the new rules, as the industry has managed to persuade regulators that their plans were overzealous. Sunday's announcement follows a similar relaxation of a new rule on minimum liquidity standards at the start of last year. It also follows a significant dilution in the U.S.'s so-called Volcker rule, which is an attempt at curbing speculative trading by banks, and signs from the European Union that it will soft-pedal parallel plans of its own.

Credo.

07 Jan, 2014

Portugal e os gregos

Tirado de uma discussão numa mailing list

Uma população largamente despolitizada e pouco habituada a participações, que apresenta atrasos significativos ao nivel educativo (como perceber uma crise económica?) e económico (ao que se acrescenta o actual retrocesso), associada uma matriz conformista catolica (que vem de há muito), media e poder politico que nao ajudam (antes contrariam), activistas na sua maioria dispersos que oscilam entre o saltar para a rua (para depois ver se veio gente) e apelos frenéticos à unidade (com eles, de preferência via manifesto), ocorre-me que há que ter paciência e preserverar. E que estamos de novo na fase 1 do bill moyer (http://www.historyisaweapon.com/defcon1/moyermap.html)

Finalmente, já que tanto se fala de futebol, ocorre-me que "quem não marca, sofre golo". Temos tido a sorte de o paulo portas estar no amarrado ao governo e haver uma completa inépcia da extrema direita (mais referida nos plenários activistas do que efectivamente presente em algum lado – também ela deve estar a tratar da vidinha) , caso contrário…http://www.publico.pt/mundo/noticia/marine-le-pen-diz-que-prioridade-da-frente-nacional-para-2014-e-o-combater-a-ue-1618715

E por fim, na Grécia estão divididos mas a crise já mostrou aos vários grupusculos que mesmo divididos é melhor darem corda aos sapatinhos (há imensos projectos inovadores de auto-gestão e resistencia que não mudam as coisas mas que solidificam alguns laços e alegram o quotidiano – veja-se as clinicas autogestionadas, a ocupação de lerissos, a greve dos funcionarios da universidade de atenas, e muitos outros). Aqui, ainda não. Mas na grécia não é bom (http://elblogdecremacatalana.blogspot.com.es/2014/01/la-tragedia-griega-contada-por-un.html)

Temos tempo. Há uma realidade que podemos desejar mudar (da qual, admitamos, nós também fazemos parte) mas isso requer varias condições e alguns erros (nossos e dos outros). Sugeri em tempos que se trabalhasse um projecto de mais longo prazo para uma manifestação de denuncia da troika por altura do 17 de Maio. Por pequena que fosse informava-se um pouco a população durante a campanha eleitoral. Mas não, temos pressa. Onde estão aqueles que há 1 ano e meio diziam que iam derrubar o governo, que não tinham tempo a perder com discussões, que era preciso era grupos fechados e coesos? Ah pois, "2015 por favor" (foi o que li num post facebook que circulou por aí) ou "este ano sou apátrida" (como li noutro). Lindo activismo. Se pelo menos reduzissem os comentários desanimados às mailing lists activistas (como eu aqui). Mas não, facebook com eles dando cumprimento ao desanimo dos seguidores.

Pera, deixa-me parar com isto para não acabarmos divididos…como os gregos. Ah pera…já estamos. Reunião? Não era mau, mas existe alguém?

O Democracia e Divida reuniu e segue com os seus debates. Um pouco mais ambiciosos para contrariar o actual marasmo. A título pessoal, espero que desta feita os acarinhem um pouco mais e os divulguem um pouco mais. Só um pouco mais. Agora que já se viu que não prejudicam as nobres causas.