Por estes dias são múltiplas as declarações de partidos e comentadores politicos e económicos sobre a vitória do Syriza. Algumas delas, como as do BE, as do Livre ou as do PCP são declarações de apoio e têm ajudado a que o tema da renegociação/anulamento da dívida retome o debate público.
Tudo isto é muito certo. Mas é preciso algo mais do que meras palavras. Elenco de seguida três aspectos que considero fundamentais serem trazidos a este debate por parte de quem quer dar efectivo apoio ao Syriza e ao o povo grego:
1. Comecemos por exigir a suspensão da cobrança de dívida grega. Sim, é verdade! Tanto o estado português como vários (muitos?) privados nacionais (nomeadamente bancos) detêm actualmente dívida grega sobre a qual continuam a cobrar juros e prestações altíssimas. Quem apoia o Syriza e o povo grego deveria, no mínimo, exigir a suspensão imediata do recebimento destas quantias cuja necessidade de pagamento massacra diariamente o povo grego.
2. Passemos depois à Auditoria Cidadã à Dívida Pública. Sim, é possível realizá-la ainda que poucos falem nisso! Pessoas anónimas podem juntar-se e contactar os movimentos de auditoria nacionais (Iniciativa Auditoria Cidadã à Dívida Pública, Comité para a Anulação da Dívida Pública Portuguesa, Democracia e Dívida) e internacionais (Auditoria Cidadã à Dívida Grega, International Citizen Audit Network, Comité para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo) no sentido de ajudarem na identificação das partes da dívida grega que são ilegítimas, isto é, que dívidas foram contraídas pelos anteriores governos gregos sem terem em vista o benefício da população (exemplos: financiamentos para aquisição de material militar à Alemanha, financiamentos de recapitalização de empresas públicas posteriormente privatizadas, financiamentos envolvidos em actos de corrupção). Por serem ilegítimas, estas partes da dívida não devem ser pagas pela população grega.
3. E terminemos exigindo que os governos (desde logo o português) disponibilizem financiamento à Grécia, a juros baixos ( ou nulos!) e com condicionalidades simples associadas ao seu uso em prol da reorganização dos serviços públicos e/ou do auxílio directo à população. O governo actual, o tal liderado pelo Syriza e que muitos dizem hoje apoiar, agradecerá essa almofada financeira que lhe permitirá resistir às investidas dos credores (nomeadamente ao estrangulamento financeiro que se aproxima).
Enfim, tudo isto é simples (é, pelo menos, simples de trazer para debate público). Porque será que nenhum dos partidos da esquerda parlamentar nacional mediatiza estas exigências e acções de solidariedade?